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A EXPRESSÃO "O POETA DA LINGUAGEM"
[sobre a poesia de Gilberto Mendonça Teles]

 

Por ELIANE VASCONCELLOS´

 

        É oportuno tratar agora da expressão "poeta da linguagem", que tem sido frequentemente usada pela crítica atual. A expressão
foi primeiramente empregada  pelo poeta e crítico goiano A. G. Ra-
mos Jubé,  num artigo sobre os  Poemas reunidos,  na  Síntese da
história literária em Goiás,
Goiânia: Oriente, 1978. Ramos Jubé já
havia saudado o aparecimento de Planície , em 1958,  sobre o ter-
ceiro livro do poeta:

Planície, de modo geral — não tenho dúvida em reconhecer
— sé o mais importante livro de poesia publicado em Goiânia, nos
últimos anos, daí por que coloca seu Autor, sozinho, na posição de
inaugurador de uma nova fase na poesia moderna de Goiás.

José Fernandes, Doutor em Letras e crítico mineiro que viveu
em Goiás, escreveu um livro sob o título de O Poeta da Linguagem
(1983),  todo ele dedicado ao exame da poesia de Gilberto.   Mais
em 2005, publica  O selo do poeta,  cuja primeira parte é formada
com a segunda edição  de O Poeta da linguagem.  Ciente de que o
escritor deve "realizar o tríplice casamento — do idioma,  que é o
corpo; do ritmo,  que é a vida;  e da emoção,  que é a alma da
poesia," José Fernandes em O selo do poeta percorreu, por dentro
e por fora, as armadilhas do discurso poético de Gilberto Mendonça
Teles, a sua arte de armar, acompanhando passo a passo as técni-
cas lúdicas que o conduziram ao sagrado trono dos poetas goianos
e  que o  distinguem com posição ímpar  entre os melhores poetas
brasileiros.
É preciso lembrar que O Poeta da linguagem é o nome de um
curta-metragem de  Lázaro Ribeiro,  sob o  patrocínio da Academia
Goiana de Letras, em 2020. Não resta dúvida de que o título O Poe-
ta da linguagem
é uma antonomásia perfeita para quem, como pro-
fessor, poeta e crítico, sempre teve a linguagem — comum, poética
e crítica como o mais importante atributo da humanidade. E  é, por
último, uma anotação de Ronaldo Bueno Simões em junho de 2021;

        O POETA DA LINGUAGEM  —  O primeiro  crítico que  chamou
Gilberto Mendonça Teles   de  "O Poeta da Linguagem"  foi  Antônio
Geraldo Ramos Jubé  no livro  Síntese da história literária de Goiás:
Goiânia: Oriente, 1978.

A partir daí,  muitos outros críticos  repetiram a denominação:
é que,  ex-professor de Língua Portuguesa e de Linguística,  o poeta
o poeta passou a trabalhar com a matéria da gramática e da língua-
gem em geral, metendo no poema palavras como "vocábulo", "fone-
ma", "vogal", "oxítono", "sintaxe", "hipérbole", etc,  coisa que se es-
palhou pelos novos poetas, como é fácil de verificar em livros apare-
cisos a partir de 1970.
Não é à toa que,  investido dessa consciência (científica e qua-se religiosa),  Gilberto Mendonça Teles  se deixa levar por um senti-
mento  de mágoa  diante da  crítica apressada  e  mal-intencionada, como a do poeta José Godoy Garcia. Preocupado com a sua ideologia
marxista e  ignorando o estudo  mais profundo da linguagem, Godoy
em vez de perscrutar o texto e o contexto literários, visou ao homem
político, simplesmente. Daí certo descontentamento que notamos em
As interfaces da poesia,  título do box  em que  se reuniu  a segunda
edição de sua trilogia poética,  acrescida do livro de Rosemayre, que
a estudou. Eis uma parte do que está no prefácio para  As interfaces
poesia:

Depois que escrevi  três livros inteiros   (bem premiados)  para
exprimir a ânsia de compreensão do poético, a expressão meta
poética ficou ipso facto "modernizada",  mas não, (faço questão
de deixar  o cacófato)  se dão conta  de que é preciso  um forte
fundamento, um sólido alicerce para sustentar  o conhecimento
maior da arte poética.s
Veja-se como o volume de Hora aberta,  onde reuni os livros
de poemas pela Editora Vozes em 2003 — está dividida em três
partes, correspondendo vã filosofia da linguagem  adotada pelo 
Autor,  a partir da leitura do  Cratilo,  de Platão  —  O NOME, A
SINTAXE e O SENTIDO, afirmando que todos os poemas  parti-
am do Nome (da palavra) para a Sintaxe em busca do Sentido.
Aliás,  estes três aspectos  linguísticos já se  mostram em  "La
de  Vidrio del Lenguaje", 
prefácio  que  Ángel Marcos de Dios,
Catedrático da Universidade de Salamanca,  escreveu para mi-
nha antologia em espanhol, por ele editada em 1999. Esta reu-
nião obteve três grandes prêmios: o Cassiano Nunes,  do Clu-   
be de Poesia de São Paulo; o Machado de Assis, da Academia
Brasileira de Letras e agora o Afrânio Coutinho, da União Bra-
sileira dos Escritores do Rio de Janeiro.''

        A seguir, Gilberto nãos mostra  o trecho em que  ele mesmo
examina criticamente o seu trabalho literário, sintetizando de ma-
neira clara a transformação por que vem  passando  a sua criação
poética, pondo numa ordem lógica e temática  os livros que foram 
publicados.  Pareceu-nos perfeita a sus visão autocrítica, não per-
cebida pelos críticos que a analisaram a sua poesia. Aliás, ele nos
confessa na sua perspicácia crítica e estudaram a preferência  de
Gilsberto: "É claro  — diz ele  — Darcy França Denófrio  percebeu 
esse sentido simbólico nos títulos de meus primeiros livros."
Observem agora a força crítica  que está neste texto  sobre
As interfaces do poema, proveniente dos 60 anos de ininterruptos
trabalhos literários na poesia, na crítica e na universidade:

 

     Quem acompanha — diz ele —  a modificação de minha 
visão literária ao longo dos sessenta anos de ininterruptos tra-
balhos literários (na poesia, na crítica e na universidade) se dá
conta, até pelos títulos dos livros, de que pelo menos três sen-
tidos de experimentações  surgiram  espontaneamente depois 
que me de Goiás

a) O do simbolismo aéreo do "amanhecer"  nos dois primeiros
primeiros livros [Alvorada  Estrela d´alva] que vão ressurgir
em Plural de nuvens e em & Cone de sombras.

b)O do sentido telúrico [também de Teles] do terceiro  [Plani-
cie]
e do quinto [Pássaro de pedra].que retorna em Saciolo-
gia goiana  e Lirismo rural: O Sereno do cerrado.

c) E o do metal linguístico ("metal" mesmo) de Fábula de fogo,
que não deixa dúvida na continuidade de livros inteiramente
dedicados à teria do poema, como os que fazem parte deste
box, a saber: Sintaxe invisível, A Raix da fala  e  Arte de ar-
 mar, continuando em Álibis,  Linear G,  Bruma do silêncio   e
Improvisuais.  Na verdade,  em todos os meus livros de poe-
mas e até nos de crítica.

 

 

Extraído de

VASCONCELLOS, Eliane.   O poeta da linguagem: a linguagem do poema.[Gilberto Mendonça Teles.]    Rio de Janeiro: Batel, 2022.   92 p.  21 cm.   ISBN  978-S85-7174-051-8    p. 17-21


 

 

 
 
 
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